complicadismo (a project)
«quanto mais intiligente mais estúpido», dizia o Gombrowickz
mas para além da intiligência e da estupidez existe essa arte ora intiligentemente estupida ora estupidamente intiligente de nos atropelarmos no sermos nesta lingua (o «tuguês») rebuscada, emboscada, enrolada, auto-canibal, ruminando e rosnando quando não é delicodoce, e etc.
temos ilustres exemplos desde o escarnho e mal-dizer dos trovadorescos, para se vingarem e limparem o ranho das cantigas de amigo, e escarrar a alto e bom-som (ou a baixo e bom sonso) o que se cochicha debaixo das janelas ou ao lado das alcovas
tratou-se, desde sempre do «encanitamento» da cultura
de certa forma, o mundo existe para que nós possamos ser realmente complicados - complicados connosco, com os outros, com a lingua que usamos e que nos usa, e os complicados horizontes/buracos mentais que esta e nós, em conjunto, podemos gerar
popderiamos ser normais, desinteressantes, mas preferimos, para que os outros nos prestem quiçá atenção, pertencer à categoria dos excepcionais, isto é, dos esquesitos, dos complicados, e caso o truque não resulte, dos algo «anormais»
a complicação é a versão degradante da complexidade - o confuso, o difícil, o renitente, o quase caótico, o mal-organizado
os complicadistas refinam-se quando têm uma experiência anglo-saxónica, com a propensão para a afirmação da excelência no plano da dita «cultura» - não vejo um bife elitista a exaltar-se realmente com a feijoada
no entanto os bifes extasiam-se realmente diante da itália do renascimento, e da grécia de Péricles, como de antepassados que os civilizaram e os vão civilizando no que um bife elitista possa ter de civilizável, sem deixar o cú do hooligan de fora do pub
o contacto do complicadismo tuga com the best of the bife (o melhor do steack!) produziu verdadeiros masterworks de exigência, paranoia e sensação de eterno exílio nesta nódoa à beira-mar plantada - talvez o caso mais exemplar seja o do Vasco Pulido Valente - o regresso à terrinha só é suportável filtrado por um bom malte escocês, nada de vinhaça do porto, açurada, piegas, e ainda mais mortal para a figadeira
não coisando nem coiso-coisando, podemos no entanto apreciar bifes com batarda frita, com o inenarrável huevo a caballo
para quê simplificar quando tudo pode ser complicável, excepto em dietas alentejanas - embora estas fedam a alho, o que não é apropriado para dissertar sobre obscuros assuntos do helenismo, sem pastilhas-elásticas góticas
a lucidez seria a cura, mas a doença também é lucidificante (convém adaptar este neo-logismo) como o disseram talvez alguns filósofos carnívoros - não nos interessam os tratamentos e as terapias, porque as culpas, nossas, da mãe, ou dos outros filhos dela, mesmo quando alheias, ou sem o tal alho, se extirpadas só nos tornariam inviávelmente simples, desinteressantes e de um nível ainda mais abaixo do imaginável
a arte a que parecemos cão-danados é, pois claro, o prazer de chicmente, e achincalhadamente, roçarmos o rasca, ou mergulharmos nele com algum estéticismo - o tema foi explorado pelo autor da frase inicial desde o seu primeiro livro - já não ér o aristocrata que galantemente fode com a bela moleirinha, mas é o dandy que se arrasta caçando coninhas na gentalha dos suburbios
acrescento, como um lema HÍBRIDO/LÚBRICO/ÚBRICO/ÚBIQUO
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